Lembramo-nos muito bem das palavras do ¨Don¨ Ricardo Teixeira, quando da escolha do Brasil para sede da Copa do Mundo de 2014, afirmando que "o evento teria a maioria dos seus gastos bancados com o dinheiro privado".
Hoje nos deparamos com uma outra realidade, desde que um estudo do Tribunal de Contas da União mostra que sairão dos cofres públicos 98,56% , dos 23 bilhões orçados para o evento de 2014. Os maiores financiadores serão dois bancos federais (Caixa Econômica e BNDES) e a Infraero, estatal que administra os aereportos do país. Juntas, investirão cerca de R$ 16,5 bilhões até a abertura da Copa.
Temos uma opinião que poderá ser contestada, mas as obras de infra-estrutura com o dinheiro público atenderão aos interesses da população brasileira que necessita de melhores condições de vida e, sobretudo, no setor de mobilidade urbana, que é uma das tragédias de nossa nação, que deveriam ter sido feitas, independente de Copa do Mundo ou não. Era uma obrigação do estado.
O maior problema é o investimento em estádios, alguns cotados para assumirem o papel de ¨elefantes brancos¨ e que, em 2007, quando o país ganhou o direito de sediar a Copa, a CBF afirmou que seriam gastos menos de R$ 2 bilhões com esses, e a conta atual já ultrapassou os R$ 5 bilhões. Um erro de cálculo muito grande.
Vamos tomar como referência a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha, e o seu impacto no país, sobretudo no futebol, conforme trabalho da Consultoria Crowe Horwath, que demonstrou que esse pode ser considerado como o maior êxito entre todos os mundiais já realizados pela FIFA. O país colheu diferentes benefícios graças ao evento, como uma melhora de sua imagem no exterior, ampliação do investimnto em sua infra-estrutura, ampliação do turismo e resgate da identidade e orgulho da população alemã.
Os estádios, em sua maioria, foram construidos pela iniciativa privada, com exceção daqueles em cidades menores, cujo custo benefício não criou condições para tal, e foram custeados pelo governo, assim como uma boa parcela do estádio de Berlim. Essas cidades foram Kaisersalautern e Nuremberg, que tiveram investimentos públicos em 100%. Por outro lado, Munique, Geisenkichen e Dortmund, tiveram 100% de investimentos privados, Hamburgo, 89%, Colonia, 78% e Stutgart, 70%.
Como em nosso país foram escolhidas sedes que não terão condições de manutenção de suas arenas, tais como Brasília, Manaus, Cuiabá e Natal, que pela falta de demanda e de um futebol sem grande motivação, não incentivariam a iniciativa privada para custeá-las, mas as demais certamente poderiam receber em sua grande maioria tais investimentos, em detrimento do público que está sendo liberado. Até hoje, não entendemos como cidades como Florianopólis e Belém ficaram de fora, substituidas por essas que estão investindo com o dinheiro público, e que verão as suas arenas abandonadas logo após o pós-Copa, pois para funcionarem em eventos esportivos necessitam de uma boa demanda. Caso contrário, apresentarão grandes prejuízos, tornando-se inviáveis.